sábado, 17 de dezembro de 2011

Nas dunas da ampulheta

Tenho tanta pressa de avançar no tempo. Ao mesmo tempo em que caio nos braços acolhedores da minha infância. Ah, minhas lembranças ensolaradas da infância! A sombra fresca de uma árvore e, só esticando minha mão, meu espírito, consigo sentir os raios de sol. Sinto o cheiro de maresia e o vento passando pelo meu rosto, e meu corpo, de braços abertos, após percorrer o bambuzal. Alguma coisa de mim vai com o vento e se perde pelo mundo. Alguma coisa do mundo se perde em mim. Uma vírgula e letras .e palavras. Lembro de pessoas queridas. Movem-se graciosamente, com olhos sorridentes na minha direção. Eu não volto. Elas também não. Tudo se dissipa no ar.
Imagino a velhice e acho-a na infância. Me imagino sozinha. Mas extremamente satisfeita. Como na minha infância o tempo vai parar e o movimento continuará. Vai passar atrás da minha cadeira(de balanço?), sorrateiramente. Como clandestino o movimento se faz quieto e passa sem que eu perceba, mais uma vez. O silêncio do movimento fazendo-se discreto e a ausência do tempo serão ignorados e desconhecidos como no início, serei criança novamente.
Agora, de que importa? Se construo o agora é porque acredito que terá um depois e tive o presente de um antes. ‘Crescer’ é algo extremamente irritante e entediante que eu espero nunca ter o desgosto de provar. Ter maturidade! Para os virtuosos e prudentes. Para alcançarmos a maturidade abandonamos nosso estado de florescência. Interromper a exalação por todos os poros e começar a concentrar a doçura. Alguns cessam seu estado de florescência, porém, por ainda serem imaturos, acabam amargos. Frutos verdes. Saber concentrar sua doçura ao paladar dos bem-afortunados e oferecer suas melhores cores ao mundo são artes de tempo e sabedoria. Todos são frutos de diferentes qualidades e amadurecem em processos diferentes. Ai está a beleza da atualidade. Querer provar todos os perfumes e sabores que puder. Coletar sementes, misturar e plantar todas no meu pomar.
Sigo em frente, de costas. E para trás, de frente. Minha curiosidade pelo passado e saudade do futuro seguem comigo.
tic-tac tic-tac

domingo, 11 de dezembro de 2011

Subnick/Status- O que escrever?

Olá ser cibernético, hoje estarei ensinando você a escrever um nick que estará levando muitos ‘curti’ no face. Iêpi!
1-Uma palavra trágica:
Sangue, morte, doença, cinzas, tragédia
2-Um vício:
Gula, gozar, tragar, beber, consumir
3-Palavra qualquer que contraste.
Rosas, cadeira, espera, quadros, revista, manchete, virada, gume
Resultado:
Meu corpo cheio de álcool e sangue na minha garrafa.
Velas tragam a felicidade, o fogo está dominado.
Um gole na morte: gozando com a vida.
Frase melosa, é nóis:
As rosas não justificam todas as cinzas que você me trouxe.

Tchram! Agora é só correr para o abraço!

sábado, 5 de novembro de 2011

Jabuticabas

São sinfonias ininterruptas, seguem sua melodia sem necessidade de regente. Só surgem. Tocam nossos ouvidos suavemente, enfeitiçando. Somos hipnotizados pela doçura.

Olhos atentos e ternos nos acompanham. Só olhos... Estão em todos os lugares. Provocativos. Olhos que são provados, são sentidos, são aprovados. Olhos doces e vigilantes. Abundantes.
No começo estamos distantes, mas ligados pelo encanto. Na ponta das ramas, na ponta dos pés. Elevamos-nos, flutuamos. De repente os galhos, os braços, as copas, os abraços.

Sem tempo para suspiros. Sem tempo para cálculo. Podemos ter todos. Até nos satisfazer. Porém nunca saciar.

Chegam com o verão.
Beijos.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Aos românticos

Longe de mim
A profanação de seu sorriso
n’alma dos desavisados.
Mesmo assim
caio nos seus feitiços,
hipnotizado por teus olhos encantados

Ó vida! Que queres?
A morte pode vir me levar.
Dentro dos meus sonhos hereges
a divindade de tua presença é o mar

Onda que bate em desatino
leva para o infinito o inconsolado,
este moço afeminado,
que mela suas ceroulas.

Ó lágrima! Ó mel!
Choro pelas cebolas.
Os últimos românticos,
presenteio com cenouras.


Laura Saldanha

terça-feira, 6 de setembro de 2011

A revolução dos desnudos

Aceitamos as máscaras que botam em nossos rostos, somos: inteligentes, engraçados, superficiais,
frios, fofos, bons, maus, cafajestes. Nós vestimos essa máscara como se ela fosse a verdade. E ela não é. Quando uma característica sua é usada para esconder todas as outras, ela é falsa. Ninguém tem só um lado. Somos profundos.
Mas nos acomodamos à essa mentira, fazemos dela nosso eu. Buscamos essa característica (boa ou ruim) como ideal. Assumimos a máscara e, pior, acreditamos nela. A máscara é nossa casca, nossa armadura, nos escondemos atrás dela todos os dias quando acordamos para enfrentar o mundo.
Mas a máscara pesa e nós esquecemos esse peso. A máscara pesa todos os sentimentos que esquecemos, todas as qualidades de dissimulamos, todos os defeitos que escondemos. A máscara também cobra seu preço.
O mundo não é fácil. Ele é complexo, imprevisível. Com nossa armadura enfrentamos o mundo, confiantes. Fazemos que o mundo é brincadeira. Fazemos dois mundos, o de dentro e o de fora. O mundo dentro da armadura é considerado muito importante. E o mundo de externo? Esse acontece, passa, mas não pode interferir no mundo-núcleo -a não ser que ele permita. O mundo de dentro é frágil, se protege do mundo externo, cria obstáculos, fortalece a casca, repele tudo: vento, sol e chuva. Tempestades no mundo de fora sopram uma leve brisa no mundo de dentro. Raios de sol e a luz das estrelas são refletidos e não chegam a crosta.
Nos acomodamos dentro de nossa casca e só saímos de lá quando sentimos muita segurança. São pessoas e lugares que nos tiram do nosso mundinho particular, por alguns instantes, e mostram como é maravilhoso o mundo de fora. Mostram-nos as cores da vida.
Muitas vezes, e isso sempre vai acontecer, quando estamos fora de nossa armadura, somos atingidos por uma ventania e elevamos no ar. Voamos para muito longe, passamos por temporais, nevadas e queimaduras de sol, e, quando voltamos para ao ponto zero, fugimos e nos trancamos em nossa casca. Não queremos sair de lá nunca mais. Fomos muito maltratados pelo mundo externo, o seu brilho pode ser interpretado como isca: isca para se perder no vendaval e nunca mais voltar.
Ficamos duros. E esse tempo que passamos confinados em nossa casca é de extrema importância: refletimos. Olhamos para nós mesmo, e não vemos saídas que não acabem em nós mesmos. Descobrimos quem realmente somos. É um labirinto sem saída. Algumas, tristes pupas, nunca mais saem da casca, não conseguem abandoná-la e seu espírito morre. Viram só um recipiente vazio. Mas outros, aqueles que souberam fazer uma reflexão e julgamento justos, têm a graça de provar a METAMORFOSE. Fazem da casca casulo e transformam-se. Caem no mundo.
Caem no mundo. Descobrem o mundo. Viram crianças novamente. Descobrem que ter sensibilidade não é ser fraco. Poder cair no mundo, aceitar todas suas modificações de peito aberto, é ser forte. Muito forte. Não se proteger atrás de armaduras e sim abraçar o mundo aceitando todos os seus espinhos, todas as suas inconstantes. Permitir-se. Fazer daquele que chamava-mos a pouco de ‘mundo-externo’ : ‘mundo-nosso’.
E mudar sempre. Aceitar a mudança. Por que somos assim: podemos ser atingidos pelo vento e levados para lugares distantes. Os tolos e fracos se trancam dentro de si mesmo e ficam a deriva, boiando no mundo exterior; e os sensíveis e fortes aceitam o mundo, fazem dele, todo, sua morada: sentem o vento como uma oportunidade de levantar voo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Laura

Campo com flores é a sua morada
Pernas para andar ela tem
Muitos a querem como namorada
Boca e nariz também

De castigo ela sempre esta
Assim como disposta a ajudar
Saudades dela, eu sempre sinto
Até quando estou dormindo

Esse poema bobo eu fiz
Pois com ela sou feliz

Joaquim Andrade



É estranho pensar em como minha vida é boa e como existem pessoas gostam de mim de verdade(muitas, tipo umas 3). Mesmo a quilômetros de distância, mesmo sem estar aqui. Obrigada por fazerem parte da minha vida.

domingo, 22 de maio de 2011

Sinto que devo calcular mais

Minha mente é uma metralhadora. Ela aponta, julga, defende, condena, parte, reparte, chantageia, rouba, presenteia, e minha mente, sim, é sarcástica. Ela, engraçado, é mais rápida que eu, enquanto ela já julgou, rotulou e despachou eu ainda estou tentando entender o início processo.

Inconstante.


Sabe como é seus próprios pensamentos tirando sarro de você? Não é ruim. Eu até acho que é um ponto positivo, faz com que eu veja claramente as coisas. Rir de si mesmo e julgar-se é bom. Contanto que você seja justo. Mas está é a parte mais difícil.

Pensei em metáforas, pensei em letras, pensei em mais pontos, vírgulas e parágrafos. Mas desisti. E ri.

terça-feira, 15 de março de 2011

Mudei

"Eu sou muito superior a todos. Mesmo não demonstrando e não concordando, devo acreditar nessa
afirmação. É muito mais fácil conversar quando acredito que sou melhor que os outros. Assim funciona. Consigo aceitar os erros dos outros. Eles podem errar, não chegam aos meu pés, posso perdoá-los. Eu posso aceitar meus erros, eles erram muito mais, não podem me criticar e se criticarem, estão errados. Eu sou superior o bastante para ignorar. Para não dar credito. Para dar um gelo. Sou superior o bastante para ser falsa. Sou superior o bastante para me fazer de humilde. Sou superior o bastante para tratar bem quem não me conhece, quem me conhece e quem eu não gosto.
Eu tenho muitos amigos, não preciso agradar, sorrir, cumprimentar alguém que não me serve para nada."


Quando eu era criança, era muito tímida. E sou até hoje. Mas nos crescemos e devemos aprender a conversar, agradar, brincar. Devemos aprender a rir das piadas dos outros. A sorrir. E eu não tinha muitos amigos quando era criança. E hoje eu não tenho muitos amigos. E eu não ligo, nem nunca liguei para quantidade. Meus amigos são o máximo, e eles me completam. Cada um é uma face minha. Aprendo com eles todo dia, descubro eles em todas as conversas, todas as risadas e em todas, raras, lágrimas(estou fugindo do assunto, mas para todos os meus amigos: Eu amo vocês!Juro).
Voltando, eu era muito tímida. E quando começamos a crescer: a ir no supermercado comprar massa de tomate, e pedir informações para as pessoas, e ter de puxar o saco das pessoas de que esperamos alguma coisa, e ter de sei lá (!) que todos nós fazemos todos os dias. Eu tive de aprender a conversar e a sorrir.
Aos 13 anos fiquei muito preocupada: eu não sabia sorrir. Não é uma história triste. Só que eu não fazia questão de sorrir e para tirar fotos fazia caretas. E descobri que sorrir é importante, agrada a todos. Então pratiquei muito e hoje meu sorriso é um sorriso decente. Às vezes.
E a alguns anos aprendi a conversar. E é por isso o início do texto (que muitos devem achar um absurdo). Eu me convencia que era melhor que todos. Acreditava nisso e conseguia manter uma conversa normal. Se não fosse por esse discurso eu não conseguiria conversar com ninguém, tinha muita vergonha. As pessoas eram tão assustadoras. Elas não eram previsíveis. Elas podiam me fazer uma surpresa e como responder?! Como isso era assustador, como é assustador!
Esse discurso de superioridade era meu trunfo! Podia começar uma conversa normalmente. Isso sempre me funcionou e eu recomendo para pessoas tímidas como eu.

Mas eu mudei.

Mudei porque perdi o medo dos outros. Perdi o medo de eles me acharem ridícula por sorrir. E perdi o medo de que achassem que eu queria mais atenção ou amigos. Descobri que não era tão legal ser malvada e durona. Aprendi que os outros são muito valiosos, e que se eu tratar todos bem me sentirei muito melhor e querida. E os outros também, mesmo com algumas exceções, se sentiram mais queridos e isso é bom. Saber que fiz pouco, mas um pouquinho que melhorou um pouquinho o dia de alguém. Dei verdadeiro valor as pessoas: elas podem me confortar e me divertir mesmo não me conhecendo, só retribuindo um sorriso. Como elas são demais!
Sorrio por ter vontade de sorrir, abraço por vontade de abraçar, converso com vontade de conversar. E ainda sou tímida.
Tive de aprender que não é por uma pessoa ser idiota, ignorante, fresca, tosca, fria ou porque eu não gosto dela, que ela é inferior. Eu sempre soube, mas agora é mais fácil aceitar.
Aprendi que depois que conhecemos de verdade as pessoas, elas não são tão toscas como pensávamos. E que tosca e infeliz era eu que não sabia como gostar, ou como conviver com essa pessoa.
Eu não amo todas as pessoas. Eu não tento agradar a todos. E não sou zeen. E não sou falsa. E sei a diferença entre um querido conhecido e um amigo. E neste instante não consigo lembrar de ninguém que eu odeie ou seja tão miserável que me faça torcer o nariz. Me desculpem a decepção.

Depois de tudo isso, eu só queria dizer que pessoas felizes e sorridentes me deixam feliz. Então sorrio e tento transmitir minha alegria para os outros. Mesmo que nunca tenha visto na vida.Porque simpatia é um remédio milagroso no meu dia.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sejamos justos (pelo Dia das Mulheres)

Incrível como ser mulher virou sinônimo de ser melosa/romântica(como preferirem). Talvez a maioria das mulheres seja assim. Mas escolher ser mais racional e lógica não quer dizer ser menos feminina! Faz parte da personalidade de cada um. Tenho amigos que são muito, MUITO românticos, chega a grudar de tanto mel, isso significa que eles são mais femininos que eu?
Mulheres choram mais facilmente, e por isso são mais femininas? Erro. Meninos devem ser corajosos, fortes e não devem se assustar. Meninas devem expressar seus sentimentos, devem ser sensíveis. Como somos bobos.
Mulheres devem ser sensíveis? Eu discordo. Eu não preciso de nenhum príncipe para me defender, não preciso chorar antes de enfrentar meus problemas e eu não sou vítima. Ser sensível não é ser fraco e ser mulher não é ser sensível.


Mulheres devem se apaixonar mais facilmente? Mulheres são enganadas mais facilmente? O tempos estão mudando, o mundo está girando.
E não me venha falar que mulheres são mais verdadeiras. Quem pensa assim é muito doce, diria até meio bobo. Mulheres não são santificadas. Só porque elas foram tratadas com inferioridade e como o portal do pecado para o mundo por anos -se não até hoje-, não quer dizer que elas sejam santificadas. Sinto muito ter de informar isto.

Mulheres não são boazinhas, são humanas, a maioria.

Ser feminina? É querer ser tratada como princesa, é querer e gostar de ser carregada no colo, precisar é ter alguém para se proteger? É ter alguém para pensar por ela?
Estamos na era medieval?!
Ser feminina não significa ser feminista. Não significa ser superior. Não significa ser fraca.
As 'princesinhas' e 'rainhas' não são tão angelicais como vocês pensam.

O que significa ser mulher? Não descreva sua mãe, por favor.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Esther,


O verão está chegando. Mas como este tempo anda meio maluco ele chegou mais cedo este ano. Alias, o que seria mais digno do verão do que loucura? Eu sinceramente não sei. Verão é um sorriso jovial, alegre e contagiante. Como você. O sol louro brilhando em contraste com o céu anil.
Deixe-me compartilhar com você este verão, pelo menos mais uma vez. Não sei se alguém entenderia esses comentários infames sobre -poderíamos dizer assim- o nada. E eu sei que talvez você não entenderia, mas a sua forma de me enganar era tão sutil... Nós entendíamos nossas discordâncias, entendíamos nossos inexplicáveis e entendíamos que não tinha nada para entender. E que saudade de você. Ainda me sinto perdida, sem poder chegar em casa, deitar na cama de cima do beliche e tirar seu sono despejando minhas histórias, meus achismos e, como você fazia questão de ressaltar, minhas criticas intermináveis sobre tudo e todos. Que saudade das risadas que viravam a noite. “Boa noite!”.
As lembranças dos nossos antigos verões vem: as brincadeiras na casa da avó com todos os primos. Os mosquitos da grama recém cortada, os passeios inesquecíveis a cavalo, as roupas sujas de barro que nunca mais foram desencardidas, índios e cowboys, o leite no lanche da tarde e como seus cavalos ficam felizes com essa nova invenção!
Enfim, volto ao assunto que me fez pensar em você, o calor, a claridade e o verão. Gostaria de lhe informar que vi dois lagartos enormes se secando no sol, descobri que eles morram em buraco ao lado da ponte. Acabou de passar uma tarântula aqui do meu lado e você pode imaginar minha reação; eu e minha famosa aracnofobia. Tem chovido de noite o que é uma boa para dormir, mas uma péssima para acordar e ir a escola. Verão é sempre uma boa para fazer uma sauna, morrendo de raiva, aquele carro não podia estar estacionado na sombra? Verão, dias de bruxas enormes, te vigiando com seus olhos penetrantes, até saírem voando revelando sua faceta azul.
Espero que muitos verões assim venham, para mim e para você.

Abraços apaixonados da sua irmã picuinha.